Wednesday, October 31, 2007

Estes são os dias

I

magino o que nos fará parar, se os dias estão pintados de fresco, se o ar foi renovado, se os campos estão floridos.
Recordo uma ponte que visitei. Sei que continua no mesmo sítio, mas hoje, talvez, intransponível. Muitos pensam que a qualquer momento pode ruir.
Será que confio? Posso, certamente, passa-la mas sentirei o receio. Ir ou ficar?
Segui. Sigo nos dias claros, nas manhãs que o sol espreita e promete dar o seu melhor.
Segui, porque é ter o melhor dos dias. É o frio, o riso e o calor também. É apreciar e observar. Aprovar e rir perdidamente, porque me sabe tão bem, rir, pelo efeito da alegria. É emitir esse sentimento quando todos precisamos dele.

Wednesday, October 24, 2007

64 Quadrados

Estendo-me nesse plano em som mudo, para não fazer barulho. Suspendo-me a dois palmos do chão para suster a ideia dominante, nas peças que se movem dispersas depois de se iniciar a abertura de um jogo de xadrez, a preto e branco amarelado.
Não é meu intento ganhar.


Monday, October 22, 2007

Fio de prumo

Paredes construídas de pedras presas por um fio imaginário, talvez. Sem esse fio, acabam afinal por ser pedras soltas que nos caem em cima, nos esmagam mas não, não nos matam. Não podem. Serão, então, os ventos que nos arrefecem pelo seu movimento e nos tiram do solo.
Tentamos dissolver essas noções de frio e preservar a temperatura nos piores dias de inverno.
É ver esse fio imaginário, que já não reconheço..

Sunday, October 21, 2007

Matriz

Não sei de onde vem ou para onde vai. Sinto-me triste tanto quanto o posso estar, tanto quanto a palavra assim o define. Sinto-me cansada, de lutar para perceber de onde vem. Talvez de lutar contra mim. Como posso definir se não percebo... Um estar sem estar, sem perceber. Mas prometo que ninguém vai notar.

Saturday, October 20, 2007

Não há caminho para percorrer.

Imagino a estrada de terra batida e humedecida. Imagino-me descalça para sentir.
Pelo olor. Esta volição desperta-me, permite, ajuda-me a ser o que sou, nesta profundidade, quando não sou. Talvez um obelisco quando não sou.
Espero até ser noite e aqui ficar. Aqui, embalada pelas palavras distorcidas, sem jeito e sem nexo. Aqui ... que não me ouvem.
Talvez seja impossível de travar esta vontade de ficar. De ficar, ficar... e apenas estar. Sem que isso me importe. Mas, sem que isto seja mais forte que uma constelação boreal. Não há maior e mais profunda contemplação. E se houver, descobrirei, se tiver de ser, mais tarde.


Wednesday, October 17, 2007

Tuesday, October 16, 2007

Para onde vai?
Porque razão é importante escrever o que não se lê?
Encontrar um traço e escrever uma particularidade.
É manifestar-me no vazio para o silêncio das vozes feridas.
É importante escrever o que há no vazio.
Não há. Porque razão?
Porque às formas do tempo não faço sentido.

Thursday, October 11, 2007

A filha Ifigénia?

Pensava Agamemnon para que houvesse bons ventos, que houvesse assim sacrifícios.
Cegos por uma vitória...

Nestas histórias, nestes contos, nestes passados tão presentes, os meus olhos param em Cassandra.

A filha ifigénia ou o pai Agamemnon?
O equivalente a tantas outras perguntas.

Thursday, October 04, 2007

Era uma vez

Não, não era uma vez. Mas aconteceu, num espaço de um dia caberem todas as palavras. Fui somando. Escolhendo e acolhendo e assim acrescentando. Quando achei ter terminado, esse pequeno enorme espaço estava ainda por preencher. Era a tal palavra… Nunca surgiu que a escrevesse, que a pusesse em qualquer lugar ou a utilizasse somente. Talvez fosse transparente para mim. Invisível aos meus olhos, invisível ao meu tacto. Solidamente invisível aos meus sentidos, sempre que a sonhava. A verdade, é que a vi algumas vezes. E da última, sei que tinha o seu interior projectado numa extensão harmoniosa. Foi, para onde não sei. Foi a mantilha da lembrança da palavra. Derivo.

 
Nunca deixamos de sentir aquilo que não dizemos.